sexta-feira, 9 de março de 2007

Passaredo

(Francis Hime/Chico Buarque)
Ei, pintassilgo
Oi, pintarroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge, asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde, colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado
Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí

Crêem os crédulos que por trás de toda letra de música existe uma história mirabolante, um grande amor, uma desilusão vivida pelo compositor, sendo incontáveis as lendas que surgem, neste sentido, na história da Música Popular Brasileira.
Tal crendice, muitas vezes, toma proporções perigosas ou, no mínimo, indesejáveis ao compositor, que, por força de uma letra, vê seu nome em colunas sociais ou mesmo páginas policiais, que lhe atribuem intenções que não teve.
Tomam por declarações pessoais letras que são meros frutos da criatividade do poeta, sem qualquer pretensão política, filosófica ou amorosa, como querem crer os crédulos. Foi assim que Chico Buarque namorou Rita, Carolina, Rosa, Cristina, entre tantas outras.
Com "Passaredo" não foi diferente. Lá estava o poeta, enciclopédia à mão, caçando pássaros para compor a canção que lhe fora encomendada para integrar a trilha sonora do filme "A Noiva da Cidade", de Alex Viany. Depois, o "Passaredo" alçou vôos mais altos e emprestou seu canto à trilha do programa "Sítio do Pica-pau Amarelo", da TV Globo.
Famintos por visibilidade, alguns urubus de plantão logo quiseram vincular Chico Buarque à tão nobre causa ecológica. Profundo conhecedor desta espécie de urubus, quando indagado se havia aderido a algum movimento ecológico, o compositor, irônico, foi categórico: "eu não entendo nada de bicho. Aliás, eu não gosto de bicho. Pra falar a verdade, eu detesto bicho".
Como se vê, o urubu não foi um dos pássaros homenageados em "Passaredo" .
Fonte: Humberto Werneck in Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras, 1989.

Um comentário:

celio disse...

A música passaredo trás ínsita uma pureza que há muito não se ouve. Pouco importa quais as verdadeiras razãoe do autor para criar essa obra de arte. O que importa, realmente, é a sua musicalidade, a sua capacidade de levar o ouvinte de volta aos idos anos 70, quando ela embalava outra obra prima: o sítio do pica-pau amarelo. Penas não termos mais pérolas como essas, hoje em dia.